Criação e outras possíveis realidades
- Luan Freitas
- 26 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2021
Os processos de criação hoje são tomados facilmente pelo meio digital, os projetos quase na maior parte do tempo vêm por essas soluções com sistemas ágeis e de fácil execução. Não atoa os ambientes de trabalho praticamente contém uma mesa com computador e talvez lápis e papel. De forma alguma quero desmerecer esse jeito de trabalhar, até porque é um meio. É uma possibilidade de processo, principalmente quando a demanda pede urgência. Mas as vezes penso que desperdiçamos potenciais arranjos criativos por não buscarmos entendermos a conjuntura e a resposta plástica de outros materiais que não o digital.
Certamente deixamos passar despercebido a utilidade das coisas que temos ao redor. Os pequenos objetos que quando soltos na mesa e testados, podem provavelmente mostrar utilidade ao que era aparentemente inútil. É um processo que não tem certo ou errado. É uma linha de pensamento humano, é intuitivo. Podemos desmantelar e rearranjar de outra forma.

Cartaz Panamericana ‘96 Graphic Design
Projeto gráfico do Rico Lins
Se pensarmos que dentro de cada processo que hoje podemos fazer digitalmente, antes era produzido manualmente. Acho que estamos deixando passar a oportunidade de observar o mundo e de aprender coisas novas.
Eu, particularmente, venho entendendo que mesmo com métodos enraizados, o processo nunca é linear, sempre teremos o fator subjetivo humano. As ideias podem e devem passar por outros espaços, elas podem calhar a trazer outros significados e isso reverberar toda uma ideia anterior, e assim até vir algo melhor que antes. Acontece. O design gráfico faz isso o tempo todo. Uma mesma imagem pode dizer muitas coisas ao mesmo tempo para muitas pessoas.
É claro, isso é um processo de trabalho que vem da ordem de cada contexto, como falei nem sempre temos essa disponibilidade ou possibilidade. As vezes temos apenas que ser ágeis na entrega e/ou informar e evitar espaços de dúvidas sem muito espaço para experimentação.
Esses dias assisti um documentário sobre o poeta Manoel de Barros, chamado 'Só Dez Porcento é Mentira' (tem disponível no Youtube, pode assistir aqui) e numa de suas falas, ele trouxe justamente essa reflexão sobre como já projetamos nossas ideias de forma fechada, sem antes gerar um diálogo com o mundo ou entendendo sua materialidade e sua capacidade no contexto. Venho assim observando isso com os materiais.
Como no ambiente virtual, tudo já está lá pronto como deve estar, e as coisas no mundo real nos permite uma imaginação renovada. Como na capa do livro A Pedra, uma pedra é só uma pedra, porém uma pedra quando pressionada contra um pedaço de papel acaba realçando uma textura que fica visível em relevos e texturas. O efeito que causa acaba as vezes sendo mais significativo ainda com o contexto, já que houve uma intensão com objetos reais na solução.

Capa do livro A Pedra
Projeto gráfico da Casa Rex
O design frequentemente pede muito desse troca com o público, que as vezes adere a ideia e as vezes não. Nem sempre é perceptível a intenção por traz das escolhas do designer, o imagético é amplamente subjetivo, afinal estamos falando de pessoas, plurais, histórias e culturas diferente. Mas sendo o projeto de design um objeto de síntese da comunicação, a mensagem está lá, como ela será interpretada é outro fator.
Faça um experimento de olhar ao seu redor e observar as combinações, e mais do que isso, pensar os caminhos que trariam ao projeto, sugira outros significados. Como seria se estou desenvolvendo um tema sobre a seca e tenho um fone de ouvido. Como poderia usar esse poder de sintaxe na relação de uma coisa com a outra?
Soa meio maluco, mas essa é a graça, estamos acostumados a ter tudo mastigado.
As coisas querem e podem nos dizer algo diferente das que nós estamos querendo que elas digam, e só vamos saber o que é quando testa-las. Se não temos nada de novo sobre o sol, precisamos reinventar.
Fica essa sugestão :)
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Até uma próxima.



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