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Cultura visual se faz memória

Atualizado: 12 de out. de 2021

Dentro do universo criativo é muito comum se falar sobre repertório, que você pode amadurecer e melhorar seu trabalho aumentando seu repertório, ou seja, observando outros trabalhos você tem mais formas de pensar o seu próprio, e isso é inegável, há uma melhora quando a gente cresce nosso acervo de inspiração.


Contudo, quando falamos desse repertório, estamos falando de acesso à informação e cultura. Mas como falar de cultura em um contexto discriminatório?


O que nos sobra?

Como é possível falar de cultura quando essa cultura não pode ser expressada ou pior, privada de acesso. Só para trazer um dado que exemplifique, em Santa Cruz, um dos bairros com maior concentração de pobres do Rio de Janeiro, com mais de 220 mil habitantes, não tem um equipamento cultural teatral de administração pública. Enquanto isso no Leblon, um bairro de classe média/alta, com 50 mil habitantes, tem 4 bem equipados.


Se a história diz que para entendermos o presente, é preciso entendermos o passado, como podemos entender o passado se ele nem é falado, ou as vezes, até mesmo negado?


Eu acho que no Brasil em específico, é um dos países que sofre gravemente desse caso. O Brasil é um país que nega seu passado muito vezes, e o país que nega seu passado é um país sem memória. As ideias que quero trazer nesse texto é sobre as virtudes que a cultura pode proporcionar sobre histórias esquecidas. Sobre memórias esquecidas e apagadas. Nos últimos anos isso ficou muito mais claro, os argumentos por exemplo de que não houve ditadura militar, ou que foi um período de abundância, com empregos e segurança para população, mesmo com referências factíveis em diversos meios provando ao contrário, ainda assim existe uma parcela que nega a história.


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Fonte: Acervo Arquivo Nacional


É muito complexo desenvolver esse estudo por um texto de blog, mas trago aqui algo que talvez desperte uma provocação, em como a nossa história contada em imagens, pode nos dizer sobre o nosso passado e o que ela nos representa.

Se pensarmos em manifestações gráficas, podemos entender que um território indígena é Guarani e não Caiapós, ou que um território é dominado por uma facção criminosa e não outra, só pela sua construção visual. É claro, essas manifestações culturais não são reconhecidas apenas pela expressão gráfica, mas nesse momento vamos nos atentar a esse aspecto. É através dessas expressões gráficas que foi-se gerando com o tempo, o que podemos chamar de cultura visual.


No texto que publiquei anteriormente, onde falo sobre a tipografia e como os alfabetos latinos dominaram parte do mundo, apagando completamente a linguagem escrita de uma civilização inteira, diz justamente sobre essa cultura visual que é diluída para sobrepor outra. Isso define bem os prejuízos causados pelos anseios do Homem em sempre querer ter domínio e controle da situação.

Se não vi não existe?

Essas atitudes até me fazem pensar se estaríamos propensos ao esquecimento se não fosses os registros gráficos, se não fossem a cultural visual fazendo essa memória estar viva aos olhos. E não, com certeza não depende só dela. Por isso existem outros meios de manifestar uma cultura, ou uma ideia.


Sobre isso, lembro-me de uma obra cinematográfica, que trata um pouco desse recurso no contexto da sua narrativa. É a comédia romântica 'Como se fosse a primeira vez' que relata a história de um romance um tanto complexo, já que a personagem, Lucy, sofre de falta de memória de curto prazo. Então sempre ao acordar, ela esquece parte da vida dela nos últimos dias. Isso inclui o Henry, seu par romântico na trama, que na ocasião chegou na sua vida na noite anterior. (INÍCIO DE SPOILER) Porém, no desenrolar da história, todos entendem que esse romance não faz sentido, não daria certo. Até que Henry um dia percebe que sempre que eles se encontram, no dia seguinte após a memória de Lucy ser apagada, ela sempre está de bom humor, cantando e pintando, e grande parte dessas pinturas sempre tem o Henry como personagem nas suas imagens. (FIM DO SPOILER).


A moral dessa história por mais ficcional que seja (ou não, vai saber?!), me faz entender como a memória biológica ou artificial, com essa capacidade de recuperar informações pode quase sempre nos dar respostas sobre o presente. Na história, além do personagem, Henry, servir de objeto emocional, é também um objeto de recurso visual. Ele traz na memória da personagem, Lucy, mesmo que inconsciente, suas características para os seus feitos após os encontros. A memória ela faz o repertório, mas ela precisa também ser revisitada.

Aprendi isso durante uma aula que tive em curso com Rico Lins, ele argumentou uma frase que me marcou bastante:


"Processo criativo não tem regra. Ele é definido pela necessidade que você tem. Cada projeto é diferente. O processo criativo é formado por três elementos fundamentais: referência, memória e repertório. A linguagem envolve sempre uma exploração técnica e um conceito. E uma negociação entre o racional e o subjetivo. O pensamento nunca é linear..."


Sendo assim, podemos dizer muito sobre originalidade e a identidade dessas culturas ancestrais e também dos povos a margem da tal cidadania, pois apesar da falta de acesso aos mecanismos culturais e de acesso à informação. É possível reconhecer os jeitos e formas de pensar a cultura local, e quiçá de uma civilização. Ou seja, talvez não precisemos ir tão longe para buscarmos as respostas.


Portanto, há que ponto estamos de resgatar as memórias regionais ou individuais para manifestar uma ideia de dentro para fora. No design, muito se fala sobre a linguagem universal, mas sinto que pouco se fala sobre uma linguagem local. Isso ao longo tempo o que vejo é só mais uma memória esquecida.

Por que buscamos tanto fora?


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Muito obrigado por chegar até aqui. Se curtiu, compartilhe, e pode me marcar também, vai ser legal ver essas ideias rodando por ai.


Até uma próxima.


 
 
 

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