O conceito importa?
- Luan Freitas
- 28 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Ainda vivemos rodeados de "delírios mamadeirísticos" como diria, Chico Alves, em sua coluna na UOL:
"Desde que surgiu, em 2018, a mamadeira de piroca causou transformações radicais na vida brasileira. O artefato imaginário, criado pelas tropas bolsonaristas, tornou-se símbolo da mentira e da perversão que inspiram fanáticos a atacar as instituições brasileiras. Na ciência, os estragos causados por esses delírios mamadeirísticos são dramáticos, especialmente em tempos de pandemia. Os depoimentos na CPI da Covid dão a exata noção do prejuízo. Ontem, a médica Mayra Pinheiro, responsável pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde, prestou depoimento aos senadores. Em um momento constrangedor, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reproduziu o áudio em que Mayra diz ter visto um gigantesco pênis inflável quando esteve em visita à fundação..."
A acusação patética e sem cabimento, desdobra-se em mil debates diferentes, mas no que tange a forma da relação homem e imagem, me deixou bastante instigado por abordar algo que costumo falar bastante no meu trabalho, que é sobre a interpretação e a leitura de um projeto visual. Tanta pesquisa, tanto aprofundamento, uma argumentação de escorrer as lágrimas. Mas no final, é apenas uma piroca. Então, o conceito importa?
Projetos de design são tão artístico quanto o trabalho puramente artístico, o projeto pelo projeto não se desenvolve sozinho. Há uma lógica relativa ao outro que não está no controle de quem projeta. Design como tal, é uma ferramenta de diálogo, e portanto, poderá haver interpretações e leituras muito diferentes do planejado. Nesse caso, a lógica de narrativa visual que defendo é o quanto ela necessita ser direta, concreta, sem margens para dúvidas ou não. E pasmem, haverá ainda assim uma Mayara para dizer o que ele é, e afirma mais de uma vez.
A conceituação de um projeto talvez importa bastante - para jurados de uma premiação ou de um concurso - mas para a vida real, definitivamente não. É por tantos olhares alheios e curiosos que defendo a minha "tese" de que primeiro, acredite você na história do projeto, o resto só deus sabe.
Eu acho que a definição conceitual ela pode existir, na real, ela deve. Porém, por um sentimento norteador do projeto, não como fim. É como um fio condutor para que todas possam trabalhar ao redor e a favor dele, com a mesma mentalidade. Assim, evita que um queria falar do céu e outro do mar, mas que no fim, vão falar que é terra. Faz sentido?
Vamos lá, o caso da Mayara, por mais distorcido que talvez possa ser. Pois, aparentemente havia em algum momento objetos fálicos devido a uma campanha da Fiocruz contra a AIDS. O assunto girou fortemente em torno da leitura do logotipo de 120 anos da Fiocruz, e aqui me pego pensando as horas de debates e discussões da equipe de criação desse projeto. Podem ter sido 5, 10, 20 dias de trabalho ou mais. Nunca saberemos. Mas minimamente sabemos principalmente por se tratar de uma instituição nacional. Aquela marca não caiu ali do nada. Houve necessariamente etapas de evolução, apresentação e aprovação. E é ai que muitas vezes me pego num debate ou vejo outros projetos que buscam definir cada milímetro do seu design, buscando os tais significados para tudo que existe.
O clássico exemplo de alucinações fálicas de marcas, como o da Fiocruz, não foi o primeiro e nem será o último (tudo bem que tem uns que exageram).

O ponto é, cada narrativa que vive em um projeto gráfico será pautado também pelos observadores, e não apenas os criadores. As intenções do projeto a menos que seja devidamente explicadas, será analisado e interpretado pelo histórico e experiência de vida do observador. Então, me faz pensar quanto vale desprender horas significando algo que provavelmente passará despercebido. Se é que você quer uma comunicação concreta e objetiva, enfim.
Uma maça mordida num computador Apple, é só uma maçã mordida? Se perguntar ao Rob Janoff, dirá que seu redesgin da marca Apple é a maçã que caiu na cabeça de Isaac Newton quando estava sentado abaixo de uma árvore e teve seu momento 'eureca', assim tento uma sacada que revolucionou o mundo anos seguintes. Alguma similaridade com Steve Jobs?
Mas besteira, é só uma maça mordida.
Por isso, acredito que todo projeto de design sempre será fruto de uma co-criação com o mundo, e dentro dele defino os limites apenas quando necessário, mesmo sabendo que haverá chances de extrapolarem. Mas se pelo bem do projeto acreditamos que valerá apena, como disse anteriormente, acredite primeiro você na história, o resto só deus sabe.
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