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Gambiarra como potencial criativo

Atualizado: 12 de out. de 2021

Falar de gambiarra para quem é brasileiro nada mais é do que falar do cotidiano, estamos cercados delas o tempo todo, uns mais outros menos. Observar e propor ideias alternativas sempre fez parte desse grande país continental. Seja para o bem ou para o mal, seja para questões públicas ou para sua casa. A ideia de improviso parece não conhecer o limite. Quem nunca colocou um prego na tira do chileno para segura-lo após arrebenta-lo?


Já diz o ditado "a necessidade faz o homem".

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Essa imagem estava circulando algum tempo atrás na internet, não conheço o autor da imagem e nem da brilhante gambiarra. Eu fiquei muito tempo tentando entende-la, confesso. Afinal, realmente não é das mais fáceis interpretações, mas é umas das mais belas referências de gambiarras que já vi para identificar a representação do andar ao qual o elevador se encontra.


Por choras designer de "UX"?!


Venho me interessando muito por esse conhecimento "popular de design", sobre as tais ideias criativas que muitas vezes a configuram como gambiarra e a ótica do designer sobre elas. Afinal, o que são ideias se não a mais pura essência da gambiarra?


Quero dizer, pensar uma ideia nada mais é do que pensar uma gambiarra, pois precisamos juntar várias outras ideias, referências e situações para refletir uma nova. Nesse bolo podemos encontrar diversos métodos e processos que vão nortear um ideia, mas já pensou em qual foi o método e o processo que definiram para chegar a solução que utilizaram na gambiarra do painel do elevador ou no prego no chinele?


Entendo que uma análise do contexto é a parte inicial, e então começa um diálogo entre o que temos e o que é preciso. Partindo desse ponto, o criador define o processo que toma, então executa o exercício de improviso e experimentação. Para alguns isso pode ser a trava que o bloqueia, já que tem tantos caminhos para onde podemos ir, por onde começar?


O escritor Austin Kleon, em seu livro Roube como um Artista (2012), ele introduz um capítulo ao qual chama de "Criatividade é Subtração", onde relaciona a era da abundância e a sobrecarga de informação sobre o bloqueio criativo, sugerindo o leitor a buscar um único caminho, sendo esse o seu diferencial e permitindo com que ele se destaque. Pois, eliminando o que não importa, ele pode focar no que realmente importa. Limitação é liberdade, conclui Kleon.


Bem, não deixa de ser.

Lembrei desse capítulo, pois seu título me marcou muito, mas não levei nessa interpretação. Os livros de Kleon, por sinal, são muito inspiradores, indico bastante. Mas nesse específico tema, penso que podemos ressalta-lo de outra forma. Pois, criatividade é subtração quando você tem recursos a sua disposição, seja material, financeiro, conhecimento e etc. Como sempre, tudo é contexto. Uma gambiarra não se limita a cumprir ou executar alguma coisa, mas dialogar, não apenas com as coisas, mas também através das escolhas feitas dentro da precariedade e das possibilidades que se traz a partir do repertório do artista ou designer.


Quando vejo uma solução dessa, como a do elevador, não acredito que houve um processo propriamente dito, também não acredito que tenha sido a primeira ideia. Arrisco a dizer que a primeira intenção foi de conserta-lo, mas sabe-se lá se o preço era viável no contexto. Mas também poderiam estar apenas esperando o serviço chegar e como paliativo, surgiu a gambiarra, enfim.

Acredito que exista algo que carinhosamente vou chamar aqui de espontaneidade e o desprendimento do ego. Como o próprio nome diz, nada mais é do que se permitir a realização da ideia de forma livre sem que ela precisa passar pela aprovação do outro. Isso ao pé da letra numa realidade de agência ou estúdio é completamente inviável, não trabalhamos sozinhos. Mas ainda assim, acredito que temos muito a aprender sobre julgamentos alheios sem um parâmetro contextual. A insegurança por apresenta-la a público. Uma ideia, por mais espantosa ou interessante que seja, não deve ser avaliada por uma simples olhada de canto.


As gambiarras criativas, tem seu potencial justamente no seu próprio contexto, em sua própria limitação. Já falei em outro texto sobre termos uma tendência em buscarmos fora as respostas para a nossa originalidade e quase nunca dentro. Não, não é papo de Buda (mesmo também podendo ser... hahah), mas acredito sempre que se temos uma oportunidade de remixar e se envolver com nosso próprio repertório, nosso próprio acervo pessoal, por que não o fazer? Deixar um pouco de lado o Pinterest, Behance, Instagram e começar a buscar significar algo e contribuir para o reconhecimento de uma nova ideia ao seu redor. E ai nesse caso, se limitando ao que tem, nesse momento e nesse contexto.


"A invenção serve para aumentar o mundo" - Manuel de Barros


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Muito obrigado por chegar até aqui. Se curtiu, compartilhe, e pode me marcar também, vai ser legal ver essas ideias rodando por ai 😉


Até uma próxima.

 
 
 

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© 2025 por Luan Freitas - Designer gráfico.

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